domingo, 25 de abril de 2010

Posse


A propriedade é a mais plebeia das alucinações. Sonha o rei um poder que não tem; sonha o camponês uma terra que sempre foi sua.

2 comentários:

Nanda Costa disse...

Cada vez que escreves, é um desafio maior, mas ainda gosto mais de dificultar na escolha da palavra para ilustrar o poema :) Hoje escolhi a palavra "posse":

Criei, não Possuí

Criei, não possuí.
Instante de infinitude, o que moldei na voz
respira. A firme casa do meu corpo se fez
pelo contraste, que só o contrário cria.
Não possuí,
denso ou raro,
pequeno até ao nada,
nenhum símbolo,
nenhum olhar de brasa,
nenhum odor colado à pele.
Pretendi a verdade, mas tudo se muda
pelos meus olhos e a fosca luz do que foi viver
só no amor se moveu. Morto o amor,
transforma-se a água.
Onde a noite não há e o dia não é,
esqueço as mudanças do tempo
e com meus ardis me defendo
do terror de mim.

Orlando Neves, in "Noema - Regresso de Orfeu"

Isabella disse...

Que lindo poema! bjinhos